quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Novembro findando

Os dois amigos apoiam-se à parede fumando em sincronia. Puxa, traga, olha, pensa e solta.
— Entende o que quero dizer? - diz o mais alto.
— Entendo. Digo, não entendo, mas entendo.
— É assim mesmo...
Vem mais uma névoa cinza. O mais baixo transfere o peso do corpo para a outra perna, dirigindo-se completamente ao amigo.
— Às vezes eu vejo as árvores... Não é? Veja essas árvores. Imagine só conhecer o passado delas.
— É como se Deus estivesse ali. É conhecer demais... - responde o alto.
— Sim. É como se fôssemos árvores.
— Quando? Agora?
— Não sei. Sempre fomos. Não somos nuvem, por exemplo. Nuvem não tem passado, nuvem não precisa ter.
— Por que não? - indaga o alto, mais para si.
— Porque as nuvens são o dentro da gente. Entende?
— Sim, mas... É.
— Eu sei. É assim mesmo.
Vem mais névoa cinzenta. E as nuvens acima das árvores.

Um comentário:

  1. Esplêndido! Fiquei maravilhado. É o poder das águas que fluem das nuvens e percorre as raízes e chega até a mais longínqua das folhas. Você, Giulia, definitivamente sabe fazer muito com pouco.
    Ivan Lantyer Neto

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